No mês de julho o sociólogo espanhol Manuel Castells veio ao Brasil para um Seminário sobre Educação, promovido pela FGV, e trouxe elementos importantes para pensar sobre nosso momento histórico. Castells foi assertivo ao afirmar que vivemos sob uma ditadura de novo tipo, um tempo de ditadura da desinformação. Nela, as plataformas digitais, que aparentemente seriam garantidoras de liberdade, são justamente o suporte material de nossa falta dela.
Olhando um pouco para o passado, conferimos que no século XIX, os jornais, os meios de informação por excelência, tinham um caráter não só informativo, mas formativo. Era um tempo em que era escasso o mercado editorial, pouco haviam livros; ficando com os impressos periódicos o papel de instruir e informar. Marx, por exemplo, ganhou a vida fazendo esse trabalho. Longos textos dele publicados no Daily Tribune de New York viraram livros inteiros tempos depois.
Já o século XX foi o século dos tradicionais jornais, gazetas e fanzines. Durante esse tempo, eles desempenharam o papel de informar os leitores. O músico Jorge Bem Jor sintetizou essa influência na letra de Chama o síndico. A maior comprovação da evidência e importância de um acontecimento era ser noticiado pelo jornal: não se tem dúvida, deu no "New York Times"!
A virada do século assistiu a crise desse modelo. O século XX terminou e o XXI iniciou sob o espectro da era digital, e a informação não era mais exclusividade dos tradicionais meios de informação e comunicação. A informação agora estava a apenas um click, era abundante, e a preocupação era então como organizar e filtrar aquele turbilhão de dados.
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Nos dias de hoje, vivemos sob o império do algoritmo. Chega até nós apenas o que os softwares das redes sociais já reconheceram e selecionaram como algo que queremos ver. Assim, as pessoas não leem os jornais ou veem o noticiário para se formar ou informar como no passado, mas para se confirmar.
Castells alertou em sua passagem pelo Brasil que as pessoas leem ou assistem apenas o que sabem que vão concordar. Nem chegará até elas algo de outra orientação cultural, ideológica ou política. Se vivemos então sob um novo tipo de ditadura, esta é uma ditadura de pensamento único, inaugurada pela era do algoritmo, que não aceita e nem vê o contraditório, a era da compreensão deformada da realidade social, a triste era da ditadura da desinformação.